No
dia 6 de maio, domingo, o Grupo Arte do Bem (GAB) visitou a Casa São
Camilo de Lélis, no Bairro Santa Luzia. Nosso encontro aconteceu às
14h junto aos internos que lá residem numa troca de experiências
engrandecedora.
Nossa
amiga Marcela encheu o ambiente de alegria com seu violão e voz,
acompanhada por outros integrantes do GAB e por alguns amigos da
instituição. No repertório, lindas melodias de Roberto Carlos
contemplando Deus, além de outras belas canções marcaram a tarde.
Em seguida o lanche foi servido e muita conversa boa fluiu
tranquilamente.
A
Casa recebe pessoas que viviam nas ruas, com vários problemas,
principalmente o alcoolismo, e trabalha na reestruturação do
indivíduo enquanto cidadão, numa clara demonstração de
desprendimento e amor ao próximo. Mantida por doações, o “São
Camilo”, como é conhecido, acolhe hoje 20 internos e é um porto
seguro para aqueles que querem reabilitação, sempre com muita
esperança e coragem.
Integrantes do Grupo Arte do Bem
Todos
os integrantes do Grupo, sem dúvida nenhuma, refletiram sobre alguma
conversa, alguma frase daquele domingo. Nossa sensibilidade
certamente nos propiciou aprender com aqueles que nos dispomos a doar
e, ao final do encontro, nossa Vice Coordenadora, Marcela Gaio, muito
propriamente nos convidou a meditar: “quem ajuda quem? Quem aprende
com quem?” Essa é uma das maiores lições do Grupo Arte do Bem e
de todos aqueles que se colocam à disposição de trabalhar em
função do amor ao semelhante.
Por
exemplo, conversando com um dos assistidos, o Sr. Marcos, ouvi o
seguinte: “vocês trazem esperança. É muito bom saber que vocês
estão lá fora e se preocupam com a gente aqui. Sinto mais força
para lutar com a visita do Grupo Arte do Bem. É como se a gente
tivesse tomado outro ar com o carinho e o afeto que vocês trazem. Se
você não sabe, vocês são a única visita de muitos aqui que não
têm mais família. O trabalho de vocês é a prática do bem”,
concluiu o simpático senhor, numa clara demonstração de satisfação
em poder conversar com alguém.
A
força dessas pessoas assistidas contagia não somente quem
esporadicamente os visita, como é o caso do Grupo Arte do Bem, mas
também quem está ao lado deles todos os dias acompanhando-os bem de
perto. Perguntadas sobre como é o trabalho junto aos internos, uma
das duas enfermeiras presente responde que “o São Camilo é uma
casa que trabalha com quem não tem nada. Todos os dias eu volto para
casa sabendo que os problemas que eu acho que tenho não são nada
perto do que vejo aqui. Vê-los felizes como estão agora com vocês
é a minha recompensa”, conta Ariele Costa.
Já
Leiliane Patrícia, há dois meses trabalhando na Casa afirma que
“eles são muito tranquilos. Reclamamos de tanta coisa na vida e
eles (os internos) estão sempre nos dando o exemplo. Passam por
tantos problemas e estão sempre alegres, sorrindo”.
As enfermeiras, Leiliane e Ariele
O
que também chama muito a atenção de quem visita a Casa São Camilo
de Lélis é o artesanato. Das mãos abençoadas de três artistas
vemos surgir luminárias, caixas para guardar objetos,
porta-revistas, porta-retratos, aparadores, dentre outros. Utilizando
basicamente revistas coloridas e cola, Luciano, André e o Sr. Gil
Nunes mostram que a oportunidade pode fazer aflorar dons e ser mais
uma aliada nas adversidades da vida. Gil Nunes, 72 anos, encanta por
sua cordialidade e por se expressar tão facilmente com as palavras,
o que pode ser explicado também pelo fato de ter trabalhado anos nas
extintas Revista ‘O Cruzeiro’ e ‘Editora Bloch’, no Rio de
Janeiro.
Sr.
Nunes, em nossa curta conversa falou sobre a importância do grupo
Alcoólicos Anônimos (AA) em sua vida, ao qual atribui grande parte
do equilíbrio adquirido. Também contou um pouco de sua história,
dos problemas enfrentados, da reconquista de sua dignidade perdida
pela terrível doença do alcoolismo e não deixou de mencionar o que
significa o Grupo Arte do Bem para ele e para os amigos internos.
“Este grupo, que conheço há anos pelas visitas, me traz muita
alegria, porque o espírito de solidariedade vindo de vocês
representa uma injeção de incentivo para aquele que quer retornar à
vida, que quer de novo se sentir útil, enfim, quer se sentir de novo
um ser humano, da forma que deve ser”, concluiu.
Leandro (sentado), Luciano e Gil Nunes, artesãos da instituição
Os
assistidos da Casa nos mostraram que não só transformam folhas de
revistas em utensílios. A maior transformação que observamos ali é
a lição da oportunidade estendida em seu mais alto grau, que é a
transformação do indivíduo que aparentemente está perdido para a
sociedade em cidadãos, cientes de suas potencialidades. São
exemplos de que a vida pode recomeçar quando nos damos mais uma
chance.
Pouco
antes de finalizarmos o encontro, o Sr. Marcos requisitou ao Grupo
Arte do Bem que tocasse e cantasse o ‘nosso hino’, como ele
disse. Para nossa surpresa, quando informamos que não tínhamos a
letra da música, ele pediu um momento e logo reapareceu com uma
cópia que ganhara em outra ocasião e que viemos a saber que
guardava com muito carinho.
Novamente o Grupo se
reuniu em torno do violão e cantou. Nesse momento pudemos observar
que grande emoção tomou conta do ambiente e vários dos nossos
queridos irmãos do ‘São Camilo’ choravam. Certamente, um
momento inesquecível!
Ricardo Assis.