sexta-feira, 11 de maio de 2012

Casa São Camilo de Lélis recebe Grupo Arte do Bem


No dia 6 de maio, domingo, o Grupo Arte do Bem (GAB) visitou a Casa São Camilo de Lélis, no Bairro Santa Luzia. Nosso encontro aconteceu às 14h junto aos internos que lá residem numa troca de experiências engrandecedora.
Nossa amiga Marcela encheu o ambiente de alegria com seu violão e voz, acompanhada por outros integrantes do GAB e por alguns amigos da instituição. No repertório, lindas melodias de Roberto Carlos contemplando Deus, além de outras belas canções marcaram a tarde. Em seguida o lanche foi servido e muita conversa boa fluiu tranquilamente.
A Casa recebe pessoas que viviam nas ruas, com vários problemas, principalmente o alcoolismo, e trabalha na reestruturação do indivíduo enquanto cidadão, numa clara demonstração de desprendimento e amor ao próximo. Mantida por doações, o “São Camilo”, como é conhecido, acolhe hoje 20 internos e é um porto seguro para aqueles que querem reabilitação, sempre com muita esperança e coragem.

 Integrantes do Grupo Arte do Bem

Todos os integrantes do Grupo, sem dúvida nenhuma, refletiram sobre alguma conversa, alguma frase daquele domingo. Nossa sensibilidade certamente nos propiciou aprender com aqueles que nos dispomos a doar e, ao final do encontro, nossa Vice Coordenadora, Marcela Gaio, muito propriamente nos convidou a meditar: “quem ajuda quem? Quem aprende com quem?” Essa é uma das maiores lições do Grupo Arte do Bem e de todos aqueles que se colocam à disposição de trabalhar em função do amor ao semelhante.
Por exemplo, conversando com um dos assistidos, o Sr. Marcos, ouvi o seguinte: “vocês trazem esperança. É muito bom saber que vocês estão lá fora e se preocupam com a gente aqui. Sinto mais força para lutar com a visita do Grupo Arte do Bem. É como se a gente tivesse tomado outro ar com o carinho e o afeto que vocês trazem. Se você não sabe, vocês são a única visita de muitos aqui que não têm mais família. O trabalho de vocês é a prática do bem”, concluiu o simpático senhor, numa clara demonstração de satisfação em poder conversar com alguém.
A força dessas pessoas assistidas contagia não somente quem esporadicamente os visita, como é o caso do Grupo Arte do Bem, mas também quem está ao lado deles todos os dias acompanhando-os bem de perto. Perguntadas sobre como é o trabalho junto aos internos, uma das duas enfermeiras presente responde que “o São Camilo é uma casa que trabalha com quem não tem nada. Todos os dias eu volto para casa sabendo que os problemas que eu acho que tenho não são nada perto do que vejo aqui. Vê-los felizes como estão agora com vocês é a minha recompensa”, conta Ariele Costa.
Já Leiliane Patrícia, há dois meses trabalhando na Casa afirma que “eles são muito tranquilos. Reclamamos de tanta coisa na vida e eles (os internos) estão sempre nos dando o exemplo. Passam por tantos problemas e estão sempre alegres, sorrindo”.

As enfermeiras, Leiliane e Ariele

O que também chama muito a atenção de quem visita a Casa São Camilo de Lélis é o artesanato. Das mãos abençoadas de três artistas vemos surgir luminárias, caixas para guardar objetos, porta-revistas, porta-retratos, aparadores, dentre outros. Utilizando basicamente revistas coloridas e cola, Luciano, André e o Sr. Gil Nunes mostram que a oportunidade pode fazer aflorar dons e ser mais uma aliada nas adversidades da vida. Gil Nunes, 72 anos, encanta por sua cordialidade e por se expressar tão facilmente com as palavras, o que pode ser explicado também pelo fato de ter trabalhado anos nas extintas Revista ‘O Cruzeiro’ e ‘Editora Bloch’, no Rio de Janeiro.
Sr. Nunes, em nossa curta conversa falou sobre a importância do grupo Alcoólicos Anônimos (AA) em sua vida, ao qual atribui grande parte do equilíbrio adquirido. Também contou um pouco de sua história, dos problemas enfrentados, da reconquista de sua dignidade perdida pela terrível doença do alcoolismo e não deixou de mencionar o que significa o Grupo Arte do Bem para ele e para os amigos internos. “Este grupo, que conheço há anos pelas visitas, me traz muita alegria, porque o espírito de solidariedade vindo de vocês representa uma injeção de incentivo para aquele que quer retornar à vida, que quer de novo se sentir útil, enfim, quer se sentir de novo um ser humano, da forma que deve ser”, concluiu.

 Leandro (sentado), Luciano e Gil Nunes, artesãos da instituição

Os assistidos da Casa nos mostraram que não só transformam folhas de revistas em utensílios. A maior transformação que observamos ali é a lição da oportunidade estendida em seu mais alto grau, que é a transformação do indivíduo que aparentemente está perdido para a sociedade em cidadãos, cientes de suas potencialidades. São exemplos de que a vida pode recomeçar quando nos damos mais uma chance.
Pouco antes de finalizarmos o encontro, o Sr. Marcos requisitou ao Grupo Arte do Bem que tocasse e cantasse o ‘nosso hino’, como ele disse. Para nossa surpresa, quando informamos que não tínhamos a letra da música, ele pediu um momento e logo reapareceu com uma cópia que ganhara em outra ocasião e que viemos a saber que guardava com muito carinho.
Novamente o Grupo se reuniu em torno do violão e cantou. Nesse momento pudemos observar que grande emoção tomou conta do ambiente e vários dos nossos queridos irmãos do ‘São Camilo’ choravam. Certamente, um momento inesquecível!


Ricardo Assis.